Ta_Lento

Todos diferentes

Episode Transcription

00:00:09: Título
00:00:30: Uma

A primeira-ministra da Noruega foi multada por se exceder nas celebrações do seu aniversário, incumprindo regras restritivas em vigor em tempo de COVID-19.

 

00:00:44: Outro #1

O presidente da Câmara de Viseu, vitimado pelo SARS-Cov 2, teve honras e exéquias de Estado. Apesar do alarido do panegírico oficial, este não foi suficiente para estimular a acuidade auditiva da Direção-Geral da Saúde.

 

00:01:05: Nós

Ao cidadão comum, por seu turno, só lhe resta lamentar a frieza e insensibilidade incondicionais do pandémico protocolo fúnebre forçado por aquela autoridade de saúde pública, que lhe impede de chorar e despedir-se dos seus com a dignidade e humanidade que um e os outros merecem.

 

00:01:30: Outro #2

Ainda na senda da desigualdade na vida e na morte, o desaparecimento recente do ex-ministro do Equipamento Social, para além de mais um teste à autoridade sanitária da DGS, patente na elegância e discrição das suas frequentes omissões e exercitado entre Lisboa e Mangualde, foi oportunidade aproveitada, uma vez mais, pela campeã hipocrisia nacional para incensar o defunto com a louvada singularidade de caráter, manifestada sem subterfúgios na célebre demissão que a tragédia de Entre-os-Rios precipitou. Para o numeroso exército farisaico, nem o grito das 59 vidas perdidas naquela noite de março de 2001, nem a gritante incompetência política terão força bastante para que o gesto demissionário se imponha e se justifique como a consequência necessária.

 

00:02:28: P’rá História

A incompetência ficará historicamente ocultada pela pretensa elevação de caráter, numa inversão ética incompatível com os deveres do serviço público, mesmo que se reconheça na atitude, que as circunstâncias simplesmente impuseram, uma peculiaridade fadada a perdurar, inimitada por correligionários e adversários daquele sujeito político. O branqueamento histórico pelo encómio fácil relativizará o facto de o Governo da altura estar em funções desde há seis anos, de o ministro em causa ocupar a pasta desde 1999, de ser Ministro de Estado na altura dos acontecimentos, de ele próprio ter operado, nos sete anos subsequentes, uma transferência natural da tutela da Obras Públicas, que exerceu, para o exercício profissional prestado a agente económico antes tutelado e também tratará de arquivar as notícias de manifestações e corte de estrada levados a cabo pelas populações dois meses antes da tragédia. O mesmo silêncio estará reservado para as declarações do secretário de Estado das Obras Públicas de então, garantindo a 17 de janeiro desse ano infausto e a poucos meses da tragédia ser consumar, que a nova ponte para Entre-os-Rios iria esperar "mais alguns anos".

 

00:03:59: O Fado

Igualdade e equidade, quer na vida, quer na morte, há muito morreram para a vida e só sobrevivem no coração desgostoso e moribundo. Sempre o fado!